sábado, 21 de julho de 2012

Transporte coletivo



Numa manhã extremamente atípica, apesar da inalterável rotina de ida para o trabalho, eu encontrei você.

[...]

Fazia frio. Não muito frio, aqui é Brasil. Mas eram oito da manhã em um dia de inverno, o que deixava minhas bochechas congeladas ao menor contato com o vento gélido. Chegando ao metrô após algum tempo de caminhada, algo parecia estar fora do lugar. Onde foram parar aqueles vagões abarrotados de gente e aquela superlotação matinal? Não importa para onde eu olhasse, a plataforma estava tranquila e aparentemente vazia. Atípico. Como se algo estivesse fora do lugar...

Apesar da sensação estranha, decidi continuar meu caminho para o trabalho. Entrei. Com folga, pois havia muito espaço. Dava para respirar ali dentro! Surpreendentemente, era possível até escolher o melhor cantinho para seguir rumo ao meu destino. Foi assim que resolvi adentrar pelo corredor da esquerda. E foi bem ali que eu te encontrei.

Com um olhar de espanto, mas com a voz embargada pela saudade repentina, me dirigi até você.

- Oi!

Por pura sorte, você retribuiu o olhar, o cumprimento e a atenção, que eu esperava não receber de volta.

Trocamos alguns olhares um pouco mais profundos, falamos sobre quanto tempo havíamos ficado sem nos ver, sobre a coincidência do reencontro. E vagou um lugar... Um não, dois! Quanta sorte! Nos sentamos... Não lado a lado, mas de tal maneira que ficássemos frente a frente. Como é bom voltar a me ver refletida nos seus olhos e ser tomada por essa sensação de ternura.

Os minutos seguintes foram preenchidos por conversas vagas, um tanto vazias. Também, pudera: as mentes estavam longe, em outro lugar. Em algum momento do passado, no qual tanta proximidade certamente só resultaria em uma coisa: um beijo.

As estações de metrô avançavam lentamente e o momento se imortalizava como uma lembrança agradável, sinalizando um importante reencontro. O burburinho das conversas ao redor, a sensação das respirações muito próximas, a saudade que veio à tona e o bater dos corações – mais forte do que nunca – finalmente tomaram conta daquele homem e daquela mulher.

Sem perceber, mas acima de tudo, sem controlar, seus lábios tocaram os meus, que retribuíram o carinho sem esquivar-se, apesar da surpresa. Era como se os segundos tivessem parado de correr, como se o vagão de metrô deixasse de se locomover. O mundo havia parado. Ou voltado no tempo, quando amar com profundidade era permitido.

Foi um beijo curto, singelo, mas que representava muita coisa para aquele casal que havia acabado de se reencontrar. Seria um recomeço?

Talvez seria, se o despertador não evidenciasse que era a hora de dar adeus ao mundo dos sonhos e dar olá para o novo dia que estava se formando...

Não conseguia acreditar. Fechava os olhos com força, esperando que fosse possível resgatar aqueles momentos felizes, como se eu pudesse voltar para o metrô que, dali instantes, realmente iria encontrar. Dessa vez, lotado e comum, como em todos os outros dias de minha vida.

Uma última insistência em fechar os olhos, mas com a intenção de relembrar cada sensação e cada momento, tudo tão intenso e real. Tinha certeza de que, se aquilo realmente havia sido apenas um sonho, nossas almas provavelmente haviam se encontrado no mundo do subconsciente. Talvez elas estivessem com saudades, mesmo que não se falassem ou se vissem há tanto tempo. "Eu não me lembrava mais dele, mas agora..."

Agora seria impossível tirá-lo da mente. Mais do que um sonho, revê-lo seria um objetivo.

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