sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Eu não quero mais ficar aqui


Das sensações mais esquisitas que um ser humano pode ter, certamente o deslocamento é uma das mais inexplicáveis. Mudar de escola e não conhecer nenhum coleguinha; estar num evento de família e não ter ninguém da mesma idade para conversar; presenciar uma briga feia dos pais; ir para a balada com um grupo de amigos e sobrar no meio dos casais; não ter assunto numa roda de bate-papo sobre aquela nova série do Netflix que só você não viu... Dá uma certa angústia só de pensar na possibilidade.

Para a maioria das situações, o que nos traz algum alívio é o fato de que “é temporário”, “vai passar”. Pode ser meia horinha ou uma noite inteira, mas tem fim. Obviamente que vamos ficar remoendo aquele sentimento de amargura por algum tempo, mas o importante é que já estamos livres. Mas e quando a sensação de deslocamento é no seu próprio trabalho?

As discussões sobre a importância de encontrar seu propósito estão cada vez mais fortes – e eu particularmente acho que elas merecem sim todo esse espaço. Encontrar prazer naquilo que fazemos durante um terço da vida, ou mais, é fator determinante para a nossa felicidade e bem-estar. Quando não encontramos, nos sentimos deslocados – e isso vai crescendo, crescendo, crescendo até tomar proporções muito piores.

A verdade é que, quando coloquei meus pezinhos pela primeira vez no escritório onde trabalho hoje para participar da entrevista, não necessariamente meus olhos brilharam. Não era o ambiente que eu queria (visualmente falando), não me senti acolhida durante a conversa e, ao aceitar o convite para trabalhar, eu não dava pulinhos de alegria. Me vinha, lá no fundo, a pergunta: “mas você tem certeza?”.

Aceitei, confesso, porque tinha mudado de função na empresa anterior e não estava curtindo muito. As novas tarefas eram chatas, especialmente em comparação com a função anterior – e lembro bem que, mesmo trabalhando até meia noite e tendo uma chefe histérica, eu sentia prazer no que fazia. Obviamente que a louca me tirava realmente do sério, mas eu nunca pensei em pedir demissão (queria mesmo é que ela saísse, né!). A vontade veio quando me “deram novos desafios” – maior mentira, pois eu estava há 9 meses aprendendo algo totalmente novo e a função imposta consistia em repetir o que eu já havia feito por quase 4 anos.

Daí que eu acho que, na ânsia de fugir de lá, eu troquei seis por meia dúzia. E não me encontrei nunca mais. Me desloquei.


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