Das sensações mais esquisitas que
um ser humano pode ter, certamente o deslocamento é uma das mais inexplicáveis.
Mudar de escola e não conhecer nenhum coleguinha; estar num evento de família e
não ter ninguém da mesma idade para conversar; presenciar uma briga feia dos
pais; ir para a balada com um grupo de amigos e sobrar no meio dos casais; não
ter assunto numa roda de bate-papo sobre aquela nova série do Netflix que só
você não viu... Dá uma certa angústia só de pensar na possibilidade.
Para a maioria das situações, o
que nos traz algum alívio é o fato de que “é temporário”, “vai passar”. Pode
ser meia horinha ou uma noite inteira, mas tem fim. Obviamente que vamos ficar
remoendo aquele sentimento de amargura por algum tempo, mas o importante é que
já estamos livres. Mas e quando a sensação de deslocamento é no seu próprio
trabalho?
As discussões sobre a importância
de encontrar seu propósito estão cada vez mais fortes – e eu particularmente
acho que elas merecem sim todo esse espaço. Encontrar prazer naquilo que fazemos durante um terço da vida, ou mais, é fator determinante para a nossa felicidade e bem-estar. Quando não encontramos, nos sentimos deslocados – e isso
vai crescendo, crescendo, crescendo até tomar proporções muito piores.
A verdade é que, quando coloquei
meus pezinhos pela primeira vez no escritório onde trabalho hoje para
participar da entrevista, não necessariamente meus olhos brilharam. Não era o ambiente
que eu queria (visualmente falando), não me senti acolhida durante a conversa e,
ao aceitar o convite para trabalhar, eu não dava pulinhos de alegria. Me vinha,
lá no fundo, a pergunta: “mas você tem certeza?”.
Aceitei, confesso, porque tinha
mudado de função na empresa anterior e não estava curtindo muito. As novas tarefas
eram chatas, especialmente em comparação com a função anterior – e lembro bem
que, mesmo trabalhando até meia noite e tendo uma chefe histérica, eu sentia
prazer no que fazia. Obviamente que a louca me tirava realmente do sério, mas
eu nunca pensei em pedir demissão (queria mesmo é que ela saísse, né!). A vontade
veio quando me “deram novos desafios” – maior mentira, pois eu estava há 9
meses aprendendo algo totalmente novo e a função imposta consistia em repetir o
que eu já havia feito por quase 4 anos.
Daí que eu acho que, na ânsia de fugir de lá, eu troquei seis por meia dúzia. E não me encontrei nunca mais. Me desloquei.
Daí que eu acho que, na ânsia de fugir de lá, eu troquei seis por meia dúzia. E não me encontrei nunca mais. Me desloquei.
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